
O Papa Bento XVI orienta: “Na arte da celebração, ocupa lugar de destaque o canto litúrgico. [...] Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na forma própria da celebração, … desejo – como foi pedido pelos padres sinodais – que se valorize adequadamente o canto gregoriano, como canto próprio da liturgia romana” (Sacramentum Caritatis, 42).
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
HINO AKATHISTOS (Hino Litúrgico Bizantino em Honra a Mãe de Deus)
Akáthistos
celebra o mistério da Mãe de Deus
O
Akáthistos é um grande hino litúrgico da Igreja grega antiga, uma longa composição
poética organicamente estudada para celebrar o mistério da Mãe de Deus.
Trata-se de um hino que deve ser todo cantado ou ouvido de pé, como o
Evangelho, inclusive com o sinal exterior de reverente atenção.
Este
hino não foi tirado de arquivos nem jamais sepultado em bibliotecas: há quinze
séculos, o Akáthistos vive no coração de incontáveis gerações, que nele
encontram alimento e verdadeira devoção a Virgem. Sem qualquer dúvida é o mais
belo hino mariano da Antiguidade e de todas as épocas, um monumento de altíssimo
valor, uma obra prima litúrgica de importância eclesial.
O
Akáthistos foi projetado com base em dois planos sobrepostos, o da história e o
da fé, e em duas perspectivas entrelaçadas e complementares, a cristológica e a
eclesial, nas quais se radica e ilumina o mistério de Maria, a Mãe de Deus. Aliás,
no pano de fundo desse desígnio de salvação está inscrita a história do homem,
de cada homem, chamado a tornar-se transparência e presença divina, como foi e é
Maria. A figura de Maria é ao mesmo tempo imagem e plena revelação daquilo que
todo homem e toda a Igreja devem se tornar.
A
Comunidade Católica Shalom também costuma rezar o Akhátistos na última semana
do Advento. Celebre conosco também, cantando-o na solenidade da Mãe de Deus:
Divide-se
o Akáthistos em duas partes: A primeira parte (estâncias de 1 a 12), seguindo o
Evangelho da infância (Lc 1-2; Mt 1-2), propõe e comenta a teofania, isto é, o
aparecimento e a primeira revelação histórica de Deus na carne humana assumida,
com os efeitos salvíficos que daí derivam. As primeiras seis (de 1 a 6) estâncias
do hino, de conotação cristológica, encenam e cantam a descida do Verbo e sua
manifestação às primeiras testemunhas: a Virgem-Mãe, João Batista, Isabel e José.
As outras seis estâncias (de 6 a 12), de conotação eclesial, mostram a epifania
de Deus no mundo, portadora de luz e graça para todos: os protagonistas e
beneficiários os pastores, os magos, os redimidos da escravidão dos ídolos e o
justo Simeão, modelo da espera de Israel.
A
segunda parte do hino (estâncias de 13 a 24) propõe a teologia da Igreja
antiga, isto é, a profissão dos dogmas de fé relacionados a Maria: as primeiras
seis estâncias (de 13 a 18) a contemplam imersa no mistério de Cristo, enquanto
as últimas seis (de 19 a 24) a cantam presente no mistério da Igreja em curso.
1.
Deus envia o anjo para fazer a saudação; o mistério se realiza em Maria;
explode a alegria, cessa a condenação, renova-se a criação.
2.
A estupefação de Maria: a criatura encontra-se diante da misteriosa iniciativa
de Deus.
3.
Diante do evento misterioso surge espontaneamente a pergunta: “como?”.
Respondendo-lhe o anjo lhe revela que somente ela‚ tão profundamente iniciada
na experiência do divino a ponto de tornar-se guia para a ascensão do homem.
4.
Descendo, o Espírito Santo cobre a Virgem, tornando seu ventre em terra-virgem
fecunda de graças.
5.
A visitação: à saudação de Maria, o mistério se revela a João e o toca em seu íntimo;
floresce o perdão, a misericórdia se difunde; Maria é a sua mediadora e o seu
altar.
6.
O mistério é revelado a José, a “testemunha” virginal.
7.
A adoração dos pastores: prefiguração dos apóstolos, dos pastores e dos mártires,
que ao longo dos tempos anunciam e confessam Cristo, nascido da Virgem, que
assim como vestiu de carne o Senhor, reveste de glória os fiéis.
8.
A chegada dos magos: ao anúncio de fé pregado pelos pastores, o homem que o
acolhe encaminha-se em busca de Deus. Inicia-se o itinerário catecumenal, que
se conclui em Maria, de quem, se fez carne a Palavra do Pai.
9.
A adoração dos magos: o caminho catecumenal do homem se conclui com a renúncia
a Satanás e aos vícios e com alegre adesão ao único Senhor, de que é artífice e
marco a Mãe de Deus.
10.
Os magos retornam à sua terra e, na própria vida, o neófito torna-se arauto de
Cristo.
11.
Como prenunciava Isaías (Is 19,1), Cristo entra no Egito, levado por Maria;
Desmoronam os ídolos e atrás dela inicia-se o êxodo no novo povo em direção à
terra prometida.
12.
O encontro com Simeão; a espera e a sabedoria do homem se iluminam em Cristo.
13.
A concepção virginal: com novo prodígio, renasce a vida; a santidade e a obediência
virginal da nova Eva se contrapõem à obediência da antiga e a cancelam
reconciliando o mundo com Deus.
14.
Em Cristo, o homem retorna às origens, no Verbo encarnado se lhe abrem os céus.
15.
A maternidade divina como vértice supremo, trono de Deus e único caminho para
que o homem perdoado torne-se “deus”.
16.
Também para os anjos o mistério do Verbo encarnado é nova luz de conhecimento e
de êxtase.
17.
O parto virginal, abismo de sabedoria divina: a luz da sabedoria humana rejeita
o mistério; a verdadeira sabedoria é a fé dos simples, que encontra em Maria a
sua luz.
18.
Nós jamais teríamos podido nos aproximar de Deus, se ele não houvesse descido, humilde,
entre nós, para nos salvar e atrair-nos suavemente para si.
19.
A virgindade perpétua de Maria, início da santa Igreja, sublime modelo para as
virgens; Maria, que no seu ventre desposou Deus, ao homem, agora conduz As
virgens e as desposa ao Verbo de Deus.
20.
o primeiro dever das virgens é o culto a Deus; por mais que prolongue suas
louvações, o homem nunca chega a celebrar dignamente os benefícios divinos.
21.
A maternidade espiritual de Maria, a “Mãe da Igreja” , da mesma forma que gerou
a Cabeça segundo a carne, não cessa de nela regenerar os seus membros, com os
sacramentos que infundem a luz e a vida, tendo brotado do seu seio e do seu
coração.
22.
A nossa regeneração nasce do mistério pascal, que tem suas raízes no seio
virginal, com efeito, para a nossa salvação, Cristo desceu do céu e se encarnou
em Maria Virgem.
23.
A mediação celeste: Maria é templo e arca que acompanha e protege a Igreja
peregrina na santa conquista da pátria celeste; é refúgio e esperança de cada
fiel.
24.
A nossa advogada: que a Mãe de Deus nos salve de todo perigo e do último
castigo.
A
trama do hino gira em torno de três palavras: a saudação do anjo, “AVE”, que
desencadeia toda a louvação, e os dois refrões: “AVE, VIRGEM E ESPOSA” e “ALELUIA”.
AVE:
o Akáthistos inicia quando o anjo desce do céu, enviado por Deus para dar anúncio
de júbilo a Virgem e, por seu intermédio, a toda a terra: O mais excelso dos
anjos foi enviado do céu para dizer “ave” à mãe de Deus(o termo grego Kaire =
alegra-te = ave). Todo entrelaçamento do hino e o seu cenário estão envolvidos
para a alegria do céu. Com efeito, é um evangelho de alegria que, em Maria, se
abre para o mundo: o anúncio de que Deus se fez homem!
AVE
VIRGEM ESPOSA: desposada com Deus, mas não desposada com homem; uma posse
pessoal exclusiva do Pai, Filho e Espírito, mas virgem de toda posse de
natureza humana. Assim, o refrão coloca a figura Virgem na própria fronteira
entre o criado e o incriado, quase como vértice extremo da ascensão humana, que
mergulha no esplendor divino e por ele é inteiramente revestida, sem perder as
suas propriedades de criatura.
ALELUIA:
o refrão das estâncias pares, glorifica só o Senhor, de quem parte a
iniciativa, brota a vida, inicia a história e se difunde a graça e em quem
terminam, mergulhados em Cristo, através do Espírito, na contemplação da
divindade, o itinerário espiritual de todo homem e o itinerário cósmico.
Na
visão teológica do Akáthistos, Maria está presente e ativa em toda a extensão
do mistério: onde quer que a humanidade de Cristo seja fonte de vida, ali está
Maria, que lhe deu sua carne, ali está inscrita a sua figura virgem e sua ação
de Mãe.
Hoje
como ontem, a Virgem é presença ativa na Igreja peregrina: sustentáculo para a
fé, para os apóstolos, força para os mártires, já que todos, em toda parte,
anunciam e testemunham Cristo, que ela nos deu.
O
autor do Akáthistos certamente foi um grande poeta, um insigne teólogo, um
consumado contemplativo: tão grande que soube traduzir em síntese de oração a fé
professada pela Igreja; tão humilde que desapareceu anonimamente. O seu nome é
conhecido por Deus e ignorado pelo mundo. E é melhor que assim seja: desse
modo, o hino é de todos, porque é da Igreja. Segundo os estudos mais recentes,
a data de composição do Akáthistos oscila entre a segunda metade do século V e
os primeiros anos do século VI.
Valor Ecumênico
O Akáthistos é comum aos irmãos
ortodoxos e aos católicos de rito bizantino: é uma vetusta e solene ponte no
sentido da plena comunhão de fé com as igrejas do Oriente. Mas também para os
irmãos evangélicos do ocidente para os quais o culto a Maria ainda constitui
pedra de tropeço, ele poderia representar um autêntico valor e uma base de diálogo:
por sua antiguidade; pela fórmula laudatória, que, se bem compreendida, redunda
em glória do Senhor; pelo substrato cristológico-eclesial; pela doutrina rica e
sóbria, isenta de exaltações, que desemboca no próprio mistério da encarnação,
isto é, no primeiro artigo de fé cristológica professado por todas as igrejas.
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