Dom Beda - Prior Mosteiro Beneditino de Fortaleza/CE
Não
é de estranhar que não saibamos falar sobre diversos aspectos do canto
gregoriano. Isso é simples se usamos os expedientes corretos, mas se usamos,
então não falaremos e continuaremos sob os auspícios da impossibilidade
coerente. Se sabemos o porquê do nome,
por outro lado não sabemos a origem. A raiz genuína reservou-se. Essa reserva,
qual se diz, tem título de espiritualidade, e leva o fito de contemplação, e
também a ornaram de meditação. Poderiam objetar-me e falar de exemplos que materializam
uma compreensão distinta pela via musical cotidiana. Entretanto, não disputo,
nem sequer debato o que para si mesmo é parte indelével de nosso ouvido
espiritual. A grandiloqüência é especiosa, quase inócua, mas a pequenez da
música classificada indignamente de canto chão é um contrassenso à majestade. A
letra sem o espírito é morta, mas o espírito não se pode mostrar sem a letra.
Em certa medida, conjuga-se o gregoriano à meditação, que é sublime na harmonia
de dois tempos: sopro e letra, ambos penetram a alma. O canto gregoriano não
busca, oferece o silêncio e a melodia, talvez por isso configure com tanta
dignidade um símbolo, por excelência da espiritualidade cristã. Se soubéssemos,
de fato, como era a música judaica em todas as suas nuances, ainda assim seria
pouco para precisar categoricamente as medidas gregorianas que não se conjugam
com a régua da música de nosso tempo. O que é o caso e expressa compreensão é
que o espírito nos canta e nos conduz a cantar com a mesma voz, ou seja, a voz
interior. Eis, portanto, o grande mérito da música sacra: preparar nossa
autoconsciência moderna à superação das vicissitudes ludibriosas da esfera do
mundo. Por fim, simples e poderosa, as passagens bíblicas coroadas com a
melodia de um compositor anônimo não se definem, devem tão somente ser vividas
e, assim, quiçá superar a vagueza de nossa razão na singularidade de nossas
práticas espirituais que encantam a religião cristã.
por Dom
Bernardo Maia, OSB.
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